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sexta-feira

PM que mentiu em investigação da morte de Marielle é preso no Rio

Foi preso nesta sexta-feira (31) o policial militar que mentiu para incriminar o miliciano Orlando da Curicica como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. O PM Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha, negociou sua rendição e se entregou.
Ele foi um dos alvos de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio para prender suspeitos de integrar a milícia de Curicica, incluindo quatro policiais e um bombeiro. No total, eram 22 alvos, sendo que nove já estavam presos por outros processos e oito, ao menos, foram detidos nesta sexta.

Ferreira foi apontado pela Polícia Federal como responsável por tentar atrapalhar as investigações do caso Marielle. Ele já havia admitido o falso testemunho em depoimento à PF anterior.
Na ocasião, ele confessou que mentiu com o objetivo de se vingar de Curicica, que havia tomado sua central clandestina de TV a cabo em uma área da zona oeste do Rio. O PM já foi segurança e motorista do miliciano, motivo pelo qual agora foi preso.
Ferreira procurou a polícia menos de um mês após a morte de Marielle acusando Curicica e o vereador Marcello Siciliano de planejarem o crime. Contou ter ouvido uma conversa, num restaurante em 2017, em que diziam que "precisavam resolver" um problema com Marielle e o deputado Marcelo Freixo (PSOL).
Essa foi durante meses uma das principais linhas de investigação da Polícia Civil, mas ambos sempre negaram envolvimento. Não está claro se, ao admitir que mentiu, o PM retirou também sua versão dos fatos sobre Siciliano.
O delegado Daniel Rosa, responsável pelo caso Marielle, disse nesta sexta que o depoimento de Ferreira na época foi usado em diversas outras apurações. "Os elementos trazidos por ele ajudaram dezenas de investigações [...] O Orlando Curicica é alvo de mais de dez inquéritos por homicídios nesta delegacia", disse.
A PF acabou concluindo que Ferreira e sua advogada, Camila Nogueira, fazem parte de uma organização criminosa para impedir a elucidação do caso. Ela nega e diz que seu cliente admitiu o falso testemunho por se sentir pressionado pelos agentes federais.
A PF entrou no caso em novembro, quando começou uma "investigação da investigação" para verificar denúncias de irregularidades no trabalho estadual. Quem está apurando a autoria e motivação do crime é a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio.
No relatório feito após as investigações e enviado à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a PF apontou o indiciamento de alguns suspeitos. As promotoras do Rio, porém, ainda não concluíram a denúncia porque aguardam a chegada de documentos de quebras de sigilo de telefone e buscas na internet.
Apesar de ter concluído o inquérito e apontado os indiciamentos, a PF sugeriu no relatório a continuação dos trabalhos, porque os investigadores não se convenceram da versão dada por Ferreira. Ele isenta de responsabilidade outros citados na apuração.
O policial militar disse à PF que chegou aos investigadores do caso Marielle para dar seu testemunho através do ex-policial civil Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, que passou a controlar a região de Curicica após ele ser preso, em 2017.
Jorginho então o apresentou ao agente federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa e ao delegado da PF Hélio Khristian Cunha de Almeida. Este último foi o responsável por levar Ferreira para prestar o depoimento à Polícia Civil.
Por sua vez, Gilberto Ribeiro da Costa trabalhou no gabinete do conselheiro afastado do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Domingos Brazão, que exerceu quatro mandatos de deputado estadual pelo MDB. Brazão também é investigado por envolvimento.
Tanto Costa como Khristian e Brazão negam ter cometido quaisquer atos para atrapalhar a investigação.
Dois suspeitos de terem assassinado Marielle e Anderson foram presos no dia 12 de março deste ano: o policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos, e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, que teria dirigido o carro do crime. Eles estão no presídio federal de Mossoró.
Agora, as investigações estaduais se concentram em encontrar um possível mandante das mortes, ainda não descoberto um ano e dois meses depois. O veículo em que a vereadora e o motorista estavam foi atacado a tiros no dia 14 de março, no centro do Rio, quando ela voltava de um debate de mulheres negras.
A operação desta sexta que prendeu Ferreira visava desarticular a quadrilha de Curicica, apontada como uma das maiores milícias da zona oeste do Rio. Segundo a denúncia apresentada pela Promotoria fluminense, o bando aterrorizava moradores e comerciantes e cometia homicídios.
A ação surgiu de dois inquéritos, um deles originado das investigações do caso Marielle. Entre os presos, estão Rafael Carvalho Guimarães e Eduardo Almeida Nunes de Siqueira, suspeitos de terem clonado o carro usado no assassinato da vereadora e de seu motorista.
Segundo a Polícia Civil e a Promotoria, o grupo atuava em áreas dos bairros de Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, de 2015 até o final de 2017. Explorava ilegalmente serviços como transporte, lazer, alimentação e segurança e cobrava taxas de comerciantes, motoristas de vans e mototáxis, além de dominar associações de moradores. A polícia aponta que os crimes são, em sua maioria, "cometidos com extrema violência".

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