Publicado: 31/03/12
Mais seis mulheres já procuraram a polícia para dizer que foram vítimas do acusado de estupro Pedro Meyer Ferreira Guimarães, de 56 anos, preso na quinta-feira depois de ter sido reconhecido por uma jovem violentada por ele há 15 anos no Bairro Cidade Nova, Região Nordeste de Belo Horizonte. Mas o número de vítimas pode ser ainda maior, segundo avalia a delegada Margaret de Freitas Assis Rocha, chefe da Delegacia de Mulheres. “Com o surgimento de mais denúncias, acredito que número de mulheres agredidas por Pedro pode ultrapassar 10 casos”, disse a policial.
As mulheres que acusam o homem de estupro entraram em contato com a polícia ontem, depois da divulgação das imagens do preso. Elas disseram ter sido violentadas na mesma época em que ocorreu o ataque no Cidade Nova. Os estupros ocorreram em diferentes regiões da cidade. Relataram ainda conhecer outras mulheres também agredidas por Pedro. Até o momento, nenhuma das vítimas compareceu à polícia para prestar depoimento, o que deve ocorrer na próxima semana.
Pedro foi reconhecido quarta-feira no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul da capital, quando a jovem atacada por ele em 1997 passava de carro e o viu. Coincidentemente, vítima e estuprador moravam próximos. A mulher seguiu o agressor, o viu entrar em um prédio e avisou seu pai, que chamou a Polícia Militar.
Os militares conduziram o suspeito até a Delegacia de Mulheres, onde foi feita a identificação oficial. Ele teve a prisão preventiva decretada e foi levado para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristóvão, onde permanece detido.
Perfil
Vizinhos de Pedro Meyer traçaram ontem um perfil do acusado. “Ele sempre foi uma pessoa estranha. Não olhava nos olhos da gente e andava sempre de óculos escuros e de boné. Nunca comentava sobre assuntos pessoais ou sobre a família. Foi meu cliente por mais de 20 anos e nem sei onde ele mora. Mas fiquei assustada quando soube da prisão”, contou Maria do Carmo Gonçalves, de 42 anos, dona de uma banca de revistas próxima à casa do acusado. Ela disse que não imaginava que o antigo cliente fosse capaz dos atos denunciados ontem. “Tive que ver a foto dele nos jornais para acreditar. Foi a primeira vez que o vi sem boné e óculos. Acho que esses acessórios eram inclusive usados para que não fosse reconhecido facilmente”, contou Maria.
O motorista de um restaurante próximo à residência também relatou o comportamento reservado de Pedro. “Era muito calado. Nunca veio aqui. Não o via com amigos. Só saía de casa de vez em quando. Não era muito de circular.” Por telefone, uma sobrinha de Pedro disse que a família está assustada com as denúncias, que não vai se pronunciar sobre o assunto, mas afirmou que acredita na inocência do tio.
Dois ataques por dia na Grande BH
Pelos menos duas mulheres são estupradas na Região Metropolitana de Belo Horizonte a cada 24 horas. Essa é a estimativa da Secretaria de Estado de Defesa Civil (Seds) com base nas estatísticas dessa modalidade de crime violento, que em 2011 vitimou 764 mulheres da Grande BH. A capital concentrou praticamente metade dos casos e foi responsável por 364 ocorrências. Em 2010, o número foi ainda maior e a média de mulheres violentadas sexualmente foi de 2,69 por dia. No período, foram lavrados 982 boletins de ocorrência com histórico de estupro, sendo que 479 tiveram origem em BH.
Apesar da redução em 2011, a delegada Margaret de Freitas Assis Rocha, chefe da Delegacia de Mulheres, afirma que os números ainda são altos. “Em 2010 tivemos aumento nos casos de estupro, reflexo de uma mudança na tipificação dos casos de atentado violento ao pudor, que passaram a ser tratados como estupro. E, mesmo com a queda do ano passado, a realidade ainda assusta tendo em vista a violência do crime”, disse.
A delegada informou que os dados podem ser mais expressivos, já que muitas mulheres têm vergonha de denunciar. E, ao falar da subnotificação, encoraja as vítimas. “É preciso que essas situações sejam denunciadas. Tal violência não pode ficar impune, tendo em vista o trauma psicológico profundo que a vítima sofre”, afirmou. Segundo ela, a delegacia tem se empenhado em dar respostas nos casos investigados. “O estupro de uma pessoa desconhecida leva tempo para investigar. É difícil dentro do universo de pessoas que existem na cidade”, disse.
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